Fake news prejudicam profissionais da saúde

Cofen
Hospital de campanha de Santo André (SP)

A enfermeira Lurdes Gonchorowiski, 39, imaginava que uma hora ou outra iria ter contato com a Covid-19, por trabalhar em um hospital na cidade de Cacoal, em Rondônia.

Mas foi em Porto Velho, ao levar o pai doente para ser internado, que Lurdes contraiu a doença. Tornou-se então a primeira moradora de Pimenta Bueno, sua cidade, a ter Covid-19. Lurdes já se curou e diz que a maior dificuldade não foi lidar com os sintomas da doença, mas com as informações falsas divulgadas em grupos de WhatsApp e redes sociais.

"Minha maior dor foi na alma. Divulgaram coisas absurdas nas redes sociais. Colocaram minha foto nos grupos e diziam que eu estava andando nas ruas, enquanto em casa não conseguia nem tomar banho", contou.

Lidar com notícias falsas e desinformação tem sido outra luta para os profissionais da saúde. Desde que a Covid-19 foi descoberta, na China, uma onda de boatos e fake news inunda a internet. A Organização Mundial da Saúde (OMS) usa a expressão infodemia para descrever o excesso de informações, algumas precisas, outras não, que dificultam a busca de orientações confiáveis.

"Qualquer tipo de fake news prejudica a sociedade. Agora imagina quando isso interfere nas diretrizes das autoridades para uma doença que vem causando uma tragédia mundial" afirma Manoel Neri, presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

A entidade aderiu a uma campanha internacional contra fake news que cobra dos gestores de redes sociais, como Facebook e Twitter, ações que priorizem a saúde e não a audiência.

A campanha exige a correção, pelas redes sociais, de informações comprovadamente falsas, com a identificação de cada usuário que interagiu com a desinformação. Pede ainda mudança no algoritmo que determina o conteúdo que os usuários verão, para que sejam menos expostos a postagens com dados mentirosos sobre o coronavírus.

Informações falsas, como a inexistência da Covid-19, remédios milagrosos ou imagens de leitos e caixões vazios, prejudicam o trabalho dos profissionais de saúde, por levarem ao relaxamento do isolamento social e à consequente sobrecarga das equipes. "As fake news são um dos responsáveis pela transmissão rápida do vírus, porque elas interferem no comportamento das pessoas", diz Neri.

Para se imunizar contra as mentiras, a OMS recomenda sempre priorizar fontes confiáveis. "Além das notícias falsas, o Brasil ainda enfrenta o discurso de ódio de uma pequena parte da população", diz Manoel Neri.

Técnicos, auxiliares e enfermeiros têm sido alvo desse ódio. Segundo Neri, são comuns relatos de profissionais discrimina dos por outros moradores de seus condomínios, por acharem que eles vão levar o vírus para esses locais, ou ainda hostilizados no transporte público.

"Em muitas partes do mundo, as pessoas aplaudem os profissionais da saúde. Aqui, são discriminados e agredidos nas ruas e nos ônibus. Mas isso é feito por uma minoria", afirma. "Em uma crise mundial como essa, é fundamental criar uma rede de solidariedade, com o coletivo se sobrepondo ao individual."

20 de maio celebra técnicos e auxiliares de enfermagem

Cerca de 80% dos profissionais de enfermagem no Brasil exercem as funções de técnicos ou auxiliares de enfermagem. O número total passa de 1,7 milhão de pessoas.

São os profissionais com contato mais intenso com os pacientes, mesmo fora de crises agudas como essa da pandemia de Covid-19. Neste momento, compõem também a maioria no número de vítimas entre os profissionais da saúde.

O 20 de maio marca o dia de técnicos e auxiliares de enfermagem, e o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) os homenageia e ressalta que são profissionais negligenciados pelas políticas públicas, com baixos salários e obrigados a encarar jornadas duplas.

A categoria pede ao Congresso que discuta a adoção de piso salarial, jornada de 30 horas e pagamento de insalubridade e de pensão para familiares dos mortos em serviço. São propostas que continuam engavetadas no Legislativo.

OMS define 2020 como o Ano Internacional da Enfermagem

O protagonismo na luta contra a pandemia de Covid-19 acontece no ano em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia definido como o Ano Internacional da Enfermagem.

A intenção era homenagear esses profissionais em todo o mundo, dar visibilidade a eles e atrair uma nova geração para a carreira.

2020 marca também o bicentenário da britânica Florence Nightingale, considerada a precursora e patrona da enfermagem moderna.

Florence foi pioneira no tratamento aplicado a feridos de guerra e na utilização do modelo biomédico, baseando-se na medicina.

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